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"É mais um que será demitido"; porque trocar presidente não resolve problema da Petrobras

A renúncia de José Mauro Coelho da presidência da Petrobras deve acelerar o processo de troca de comando da petroleira. O objetivo do governo é emplacar a indicação de Caio Paes de Andrade, que já foi feita há algumas semanas, mas andava a passos lentos devido à resistência do conselho diretor da petroleira e à permanência de Coelho na presidência, mesmo após ter sido demitido.

O anúncio da demissão de José Mauro foi feito pelo governo em 23 de maio, pouco mais de um mês após ele assumir o comando (o que ocorreu em 14 de abril). Ele foi o terceiro executivo a ser demitido do comando da Petrobras em apenas 14 meses.

 

Após Coelho assumir a presidência, a Petrobras fez um aumento de 8,98% no preço do diesel, no dia 10 de maio, o que provocou mais um rompante de Jair Bolsonaro, que classificou o lucro da petroleira como um “estupro”.

O novo aumento anunciado pela Petrobras na última sexta-feira (16) foi “a gota d’água” para a classe política. Aliado do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), chegou a ameaçar até mesmo investigar parentes dos diretores da companhia. Bolsonaro também chegou a pedir uma CPI para investigar os reajustes.

“Chegou no limite dele de suportar as pressões e, naturalmente, vai acelerar um pouco a entrada do novo presidente. Sobre o novo presidente, é mais um que será demitido daqui alguns meses, porque o problema lá não é a direção da companhia, o problema é a política de preços”, avalia o economista Vivaldo Lopes, em entrevista ao Estadão Mato Grosso.

Vivaldo afirma que as críticas voltadas à Petrobras soam como um “teatro eleitoral”, pois Bolsonaro e aliados vêm procurando culpados pelos aumentos de preços. Antes eram os governadores, depois o ICMS e, agora, a diretoria da empresa. “A Petrobras virou a Geni de todos”, afirma Vivaldo, remetendo-se à música “Geni e o Zepelim”, de Chico Buarque.

O economista destaca que a troca do comando da empresa não resolverá o problema. A solução, aponta Vivaldo, é mudar a política de preços, que leva em conta unicamente o preço do barril do petróleo no comércio internacional e o dólar. “Se não alterar a política de preços, pode xingar a Petrobras, pode transformar na 'Geni’, que não vai alterar nada”, completa.

Vivaldo acredita que o novo presidente, Paes de Andrade, será aprovado para o cargo, mesmo não cumprindo o estatuto social da petroleira, que exige expertise em gestão de megaempresas. Paes de Andrade é formado em Comunicação Social e era presidente do Serpro, empresa pública líder no desenvolvimento de soluções de Tecnologia da Informação e Comunicação.

A diretoria da empresa, defende Vivaldo, deveria contratar estudo de alguma consultoria para sugerir outras maneiras de precificar o petróleo, seja de forma totalmente nacional, da forma como está ou híbrida, para que a paridade ocorra somente no volume que o Brasil importa. Atualmente, cerca de 17% da gasolina e 25% do diesel consumidos no país são importados.

“Que a paridade seja relativa, só nessa parte que é importado. Na outra parte que é nacional, que siga uma métrica de custos e margens de lucros nacionais. [...] Tem alternativas, essa não é a única política de preços do planeta”, defende.

O Preço de Paridade Internacional (PPI) foi adotado pela Petrobras durante a gestão de Pedro Parente, em 2016. Parente foi indicado por Michel Temer para fazer uma reestruturação da companhia, que acumulava dívidas de 160 bilhões de dólares devido às interferências políticas nos preços, feitas durante o governo Dilma Rousseff (PT).

“Hoje, ela tem uma dívida que caiu para 59 bilhões de dólares. Portanto, é compatível com o seu faturamento, mas a política de preços que foi feita para ser transitória, no período de reestruturação, continuou a mesma. Isso está produzindo lucros extorsivos”, conclui Vivaldo.

FONTE : ESTADÃO MATO GROSSO

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